08 maio 2006

INTIMIDADE COM LIVROS

(autobiografia - parte 2.386 de 14.600)
O LIVRO DA JUVENTUDE, Seleções Reader’s Digest – 1963, eu guardo até hoje. Depois que aprendi a juntar letrinhas em carreirinha e descobrir nelas os segredos escritos, foi um tal de ler tudo o tempo todo que para me ver quieto, sossegado em um canto, o pai me deixava pegar o livrão de capa dura, predominantemente vermelha, onde o foguete modelo Apolo antes de ir para a lua divide espaço com um índio hollywoodiano - tem ainda uns beduínos de verdade e outras figuras menores. Foi nesse livro que conheci a história de Wyatt Earp e de Cochise, o maior dos apaches. Fique sabendo que existiu um detetive chamado Sherlock Holmes e também o aterrorizante e Abominável Homem das Neves - Walt Disney e seu mundo encantado estão no livrão, mas este eu já conhecia de outras leituras promovidas pelo pai, com o intuíto de me sossegar o facho. Durante meio ano manuseei o livrão, incansável, empolgado. Acredito que foi ele, o livrão, que desenvolveu em mim o gosto pela aventura escrita e libertou a imaginação criativa. Nunca parei! Fui crescendo e desenvolvendo o gosto que era alimentado pelo pai, feliz com o filho leitor para acompanhá-lo nas tardes de chuva... Sentados no alpendre cada qual abria seu livro e ficávamos absortos. Eu com o nariz enfiado dentro de exemplares do Círculo do Livro, ele que era pastor, dedos ágeis correndo pelas páginas da bíblia. Anos depois eu sento ao lado de minha filha que, maravilhada, descobre os patinhos feios, os lobos maus, os porquinhos, os pés de feijões e a infinidade de criaturas fantásticas produzidas pela literatura infantil. Ela e eu, essa cena, evoca o passado. Busco meu livrão, vou acarinhando página por página, relembrando as leituras, a infância, o pai... meus olhos se enchem d'água. A filha vem pra cima e eu disfarço. Nem precisava, ela espicha os olhos e a curiosidade para a gravura de Cochise, o maior dos apaches, e vai tomando espaços no meu colo e se perdendo dentro do livrão aberto em minhas mãos.

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