02 maio 2006

CICATRIZES

(autobiografia - parte 4.386 de 14.600)

Tenho quatorze cicatrizes espalhadas pelo corpo, a maioria delas esta nas pernas, próximas aos joelhos. Uma grande, solitária, parecendo queimadura, está no braço, alojada no tríceps. Mas apesar de grande, esta não é maior do que aquela lá no tendão de Aquiles. Quase perco o pé! Começou com mordida de cobra verde, sem veneno, mas inchou tanto e acabou virando uma bolota, parecia um terceiro e bizarro osso de tornozelo, logo acima do calcanhar. A mãe tentou cuidar, fez compressa de azeite quente com folha nova de mamoneira, mas qual? Moleque não para quieto e foi assim, fazendo farra, correndo pelo algodoal, que a proteção caiu e o agrotóxico que deveria exterminar lagartas entrou pelos buracos da mordedura. Um estrago! Três meses de: Amputa, esquece! Amputa, nem pensar! A saída é amputar! Filho da puta nenhum vai tirar o pé do meu filho! E o pai que não gostava de ver a mãe falando palavrão, me trouxe na cacunda até o trem da FEPASA – Santa Fé do Sul-São Paulo. O pé ficou por três meses sendo curado na Santa Casa de Misericórdia da capital. Mãe chorou de felicidade, logo ela que tinha se desidratado nesse ínterim por conta da filha, a caçula, perdida para a meningite. Ter voltado inteiro foi das maiores alegrias que dei a ela. Contentamento pouco, logo eu estava fazendo novas artes, cortando as pernas e formando novas cicatrizes, ao todo, quatorze sobressaltos visíveis. Cada um deles pode ter afligido o coração da mãe por dobrado. Vai que esqueci algum corte, que agora anda bem fechado, pode contar sem medo de erro uns trinta sobressaltos no coração materno!

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