O nome dela começava com a letra r, de Rosana. Mas Ana não achava graça alguma em rosas, por isso eliminou a Rosa do próprio nome e continuou preferindo margaridas.
Ela mesma confessou que gostou de mim quando deixei escapar na sala de aula a predileção por margaridas. Eu sempre tive muita sorte com frases soltas. Já no intervalo Ana me insinuou calores em seu corpo magro de busto e ancas retas. Da amizade para o namoro bastou o primeiro de maio despetalando girassóis num mal-me-quer-bem-me-quer. No oitavo girassol, bem antes das pétalas todas serem arrancadas, concordamos que nosso tempo seria bem melhor aproveitado se desistissímos do sortilégio e arrancássemos mutuamente camisas, calças e suspiros. Deixamos em paz as pétalas e ficamos algum tempo ocupados com nossas peles, nossas bocas, nossos corpos leves, magriços.
Trocamos margaridas no dia dos namorados, nas férias, no dia dos pais, no sete de setembro, dia das crianças, finados, natal, ano novo e carnaval. A cada nova data de feriado, uma flor e uma carta de amor, sem propositos, sem intenções. Gestos de quem distribui comida aos pássaros, sem esperar retorno. Mas quando uma margarida chegava para mim, era como se um pássaro pousasse no meu ombro, não conseguia impedir a lágrimazinha, teimosa, ignorando a ordem para que permanecesse no fundo do olho esquerdo. E foi assim durante três estações inteiras, então era outra vez outono com sua ausência de flores. Azar do girassol que Ana despetalou durante a páscoa tentando descobrir se eu ainda a bem queria.
Eu não a mal queria, porém mais bem queria outra garota... Julia, de seios redondos e quadris bem fornidos, com predileção clara para o vaso repleto de trevo de quatro folhas.
Ana não tinha sorte o bastante. Na última pétala deu mal-me-quer.
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